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Falta de amor à vida

Na noite de 19/03/2006, a Rede Globo de Televisão exibiu no programa dominical Fantástico, o documentário “Falcão – Meninos do Tráfico”, produzido pelo rapper MV Bill e por Celso Athayde, revelando imagens e depoimentos do cotidiano do tráfico de drogas nas favelas brasileiras.

O documentário, de 54min., mostrou depoimentos de traficantes e de crianças que trabalham no tráfico de drogas, que expunham os motivos que os levaram a entrar para o crime. Foram mais de 120h de imagens gravadas, em cinco anos de trabalho, pelas favelas e morros do Brasil, onde o governo paralelo do tráfico de drogas faz suas vítimas diariamente. Vítimas de uma sociedade desigual, e de uma total falta de amor pela vida.

O comentarista Paulo Santana do Jornal do Almoço, da RBSTV, definiu na manhã do dia 21/03/2006 muito bem a sensação de telespectadores de todo o país: “Foi um soco no estômago”. Com o estado emocional abalado, em choque, quase chorei. Nem tanto pela realidade de miséria e marginalidade que existe em nosso país, mas pela falta de amor próprio manifestado no depoimento daquelas crianças e jovens que vivem da venda de drogas, com uma arma na mão.

“Se eu morrer, amanhã ou depois nasce outro melhor ou pior do que eu”, disse um dos meninos. É como se para eles, estar vivo ou não fosse indiferente. Nada mudaria a condição de favelado, miserento e sem estudo. Sobrevivem, como tantas pessoas que desistem, ou sequer tentam lutar para ter uma vida melhor.

Ter dinheiro não é tudo. Mas sempre achei que batalhar por uma vida com conforto e tranqüilidade fosse um adjetivo inerente a todo ser humano. Mas descobri que o homem deixou de evoluir nesse ponto. A batalha pela comida se resumiu ao fato de atentar contra a vida do outro. Será que ainda somos tão primitivos assim? Será que eles não conseguem ver outra saída, que não o tráfico? Não existe ninguém que possa ou consiga mostrar a eles uma outra realidade? Ou será que não existe saída?

Particularmente, gosto de trabalhar e não ser uma pessoa produtiva me deixa em pânico. Mas passar a noite com uma arma na mão, sem poder dormir, fazendo uso de drogas ilícitas para se manter acordado, subornando policiais (que deveriam estar nos defendendo!!! Mas isso é assunto para outro texto…), para poder continuar vendendo drogas, é uma concepção muito diferente de trabalho da que tenho. E ter certeza de que se vai morrer baleado, antes de alcançar a maioridade – ou ser preso – são para mim coisas de quem não tem o mínimo de amor à própria vida.

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